Imagine um papel que não amarela e nem molha, não rasga facilmente e pode ser usado normalmente para escrita ou impressão. Esse produto existe e tem tecnologia 100% brasileira, resultado de uma parceria entre a empresa Vitopel e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior paulista. Apesar de ter o aspecto do material de origem vegetal, o papel, na verdade, é feito de plástico e foi desenvolvido a partir da reciclagem de embalagens de biscoito, picolé, salgadinhos, sacolas plásticas e outros rótulos. Batizado de Vitopaper, o produto se assemelha ao papel couché, com superfície muito lisa e uniforme, e já foi empregado na confecção de livros, relatórios empresariais e até cadernos. A cada tonelada de Vitopaper produzida, estima-se que 750 kg de plástico deixem de ir para os depósitos de lixo.
O Vitopaper é o primeiro papel sintético produzido com material reciclado “pós-consumo”. A principal matéria-prima são os polipropilenos biorientados (BOPP/PP), usados na produção de embalagens flexíveis, como as de barrinhas de cereais. Até então, o PP não tinha uma cadeia de reciclagem ativa e, ainda que reciclado, acabava parando em lixões e aterros sanitários. Uma das vantagens é que o papel é fabricado nas mesmas máquinas que produzem as embalagens. “Nossa preocupação era não desenvolver um subproduto, como as vassouras feitas de plástico, e conseguir adotar a mesma tecnologia que já usamos nas embalagens flexíveis”, afirma Patrícia Gonçalves, Gerente de Produtos da Vitopel.
A diferença principal em relação à fabricação do BOPP/PP – e segredo guardado a sete chaves – é o acréscimo de aditivos para conferir ao produto o aspecto de papel. “As embalagens são cortadas, passam por uma lavagem e se transformam em pequenas bolinhas, que chamamos de pellets. Esse material recebe aditivos e é esticado em uma máquina, se transformando num filme bem fino”, explica Patrícia. Para completar o processo, depois de cortado, o papel sintético recebe descargas elétricas como parte de um tratamento de superfície. O projeto levou cerca de três anos para ser desenvolvido e contou com a participação do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar.
À receita do papel sintético, a universidade acrescentou a possibilidade de se incorporar outros tipos de plásticos, mais uma inovação do produto. Com isso, passaram a compor a fórmula o polietileno de baixa densidade (usado para confeccionar as sacolinhas de supermercado), o polietileno de alta densidade (frascos de produtos de higiene e limpeza) e o poliestireno (embalagens de iogurte e copos descartáveis). Até então, não havia, no mundo, tecnologia que empregasse fontes tão diversas. Para viabilizar a fabricação, a Vitopel firmou parceria com associações de reciclagem de Votorantim (SP), onde a unidade de produção da empresa está sediada.
Em sua composição, 75% do Vitopaper, que está há cerca de três anos no mercado, é de material reciclado e ele é 100% reciclável. Com coloração perolada, o produto pode receber todas as tonalidades durante a impressão. Uma das limitações do papel é que não pode ser usado por impressoras caseiras. Os modelos a laser também são vetados, pois o material não resiste a temperaturas acima de 120ºC. Em compensação, água não é problema para o papel de plástico, que não absorve líquidos. Em relação à escrita, a única limitação são as canetas tinteiras – lápis e consequentemente borrachas, além das canetas esferográficas estão liberados. O uso para embalar alimentos também é proibido, por ser um produto reciclado, e seu uso, por enquanto, se limita à indústria gráfica.
Resistente a traças, o papel sintético não tem prazo de validade. “O livro vai durar tanto quanto seu conteúdo”, comenta Patrícia. O produto já foi empregado na produção de livros como o infanto-juvenil Guerra e Paz, de Eraldo Miranda, ilustrado por Marcelo Alonso. A obra é inspirada nos painéis homônimos de Cândido Portinari.
A Petrobras é uma das empresas que usou o Vitopaper na confecção do seu relatório anual, e o Ministério das Relações Exteriores prepara resumo sobre a Rio+20 também produzido com o material. Além desses volumes, o produto já foi usado em cardápios, revistas e cadernos. Até agora, a estimativa é de que mil toneladas do papel tenham chegado ao mercado.
Um dos entraves para a disseminação do Vitopaper é o fato de ele ser mais caro que o papel convencional. Dois motivos pesam nesse aspecto: a ausência de uma grande escala de produção e os impostos. Ao contrário do papel de celulose, que para aplicação de livros e periódicos é isento de impostos, o Vitopaper conta com os tributos. A isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi conquistada em 2011, mas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) continua pesando. Por causa disso, ele fica 18% mais caro, percentual de ICMS aplicado em São Paulo.
FONTE: ABRE Associação Brasileira de Embalagem
http://www.abre.org.br/noticias/papel-de-plastico
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